A política do rock
* Paulo Germano
Enquanto a cena de Porto Alegre padece moribunda, implodindo em decadência feito o Congresso, com bandas mais desunidas do que a cúpula do PT, eis que surge uma esperança, uma luz, um exemplo, uma lição, um messias, uma bênção, enfim, um troço massa mesmo.
Mais romântica do que um cara-pintada, mais ingênua do que a oposição do PCO (ok, tá enchendo o saco essa analogia com a política, mas é importante, acredite), mais combativa do que a Heloísa Helena, uma turma da Região Metropolitana vem dando aula de como se constrói uma cena roqueira. Porque, para montar uma cena, é preciso romantismo, ingenuidade e combatividade. Talvez política não seja só isso, mas rock é.
Bueno, o fato é que de uns anos para cá uma ideia cresce na Região Metropolitana, e as bandas lotam bares a torto e a direito, e parcerias são fechadas com as prefeituras, e grupos de outros Estados tocam em Canoas, e festivais fervilham sem parar, e uma banda chamada Cu Sujo tem público cativo. Troço fantástico!
Trata-se dos “coletivos”. São associações sem fins lucrativos que reúnem uma penca de bandas, produtores, donos de estúdios etc. O lance é baseado na tal “economia solidária”. Por exemplo, se o vocalista de uma banda é designer, ele cria o logotipo do estúdio de outro integrante do coletivo. Em troca, vai gravar duas músicas de graça. Já se um guitarrista manja de eletrônica, ele conserta um amplificador e, na permuta, vai receber tantas horas de ensaio.
– Isso tudo só funciona quando a cena anda. Um ciclo econômico começa a funcionar e, daqui a pouco, todos conseguem se manter – diz Wender Zanon, um dos cabeças do Coletivo BIL (Bandas Independentes Locais), de Canoas.
É tanta banda unida que, naturalmente, chama a atenção. A prefeitura de Canoas – aqui, em um exemplo de política justa – convocou o BIL para montar um palco alternativo na Festa do Trabalhador, evento tradicional da cidade no Dia do Trabalho. Em julho, o coletivo levou para Canoas o Ratos de Porão, que sequer deu as caras na Capital. O BIL ainda organizou o 1º Festival Canoense de Videoclipes Independentes e, em três anos, lançou três coletâneas com bandas locais. Pelo amor de Deus, isso é sensacional.
Outros coletivos pipocam em Esteio, São Leopoldo e já chegam a Santa Maria, Venâncio Aires e Pelotas. Na Capital, desde 2007 existe o Coletivo ExtremoRockSul, com adesão ainda tímida.
– Exatamente por sermos de Porto Alegre, nos sentimos na obrigação de propagar essa ideia – diz o produtor Juliano Fraga, romântico feito um cara-pintada.
Assim se faz política no rock.
* Publicado originalmente no jornal Zero Hora, na coluna Remix, em 27 de agosto de 2009.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
Ativismo
Recebi através da lista Rede Música Brasl e republico na íntegra pois é bastante válido.
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Um comentário:
Outro mundo.
Outra História.
Tomara que passemos por isso um dia.
Pode cortar o resto abaixo, é só um desabafo.
outro mundo?
... A prefeitura de Canoas ... convocou o BIL para montar um palco alternativo na Festa do Trabalhador, evento tradicional da cidade, no Dia do Trabalho...
...lançou três coletâneas com bandas locais...
O mercado musical lá, não é muito diferente do daqui.
Lá tem 4 rádios "alternativas ou rock", desatreladas à empresas jornalísticas, à gravadoras e jabás. Duas delas disputam pra ver quem mostra a música mais nova da banda mais desconhecida "da cidade" (nem que seja uma vez só). Tem dias e horários por estilo musical.
- Outra história
Uma destas rádios tem quase 30anos e a outra uns 20anos (sempre tocando rock local).
A TV cultura tem 80% de programação local, 50% dela voltada à divulgação da cultura local; e é muuuuito bem assistida.
Vídeo-clipes, entrevistas, banda ao vivo... lá é normal e corriqueiro.
A MTV é um canal "aberto" UHF e tem programação local.(e a TVcom também é aberta)
A prefeitura tem o "funcultura", verba para a cultura e não para o folclore. Acontecem muuuuitos eventos promovidos pela prefeitura (de graça para o público), mas as bandas recebem pra tocar.
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Valorização, respeito, qualidade e sobrevivência.
Isto demora pra se conquistar.
Enquanto não tivermos uma rádio alternativa, voltada aos valores locais, não engrena.
Não adianta ser o "queridinho" da RBS. Isto dura pouco e não leva muito longe.
O Planeta atlântida, e a quantidade de músicas das nossas bandas que tocam na programação de Porto Alegre, mostra o respeito que eles têm por nós.
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