Da série Grandes Brasileiros: O Barão de ItararéApparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o
Barão de Itararé, foi um dos maiores humoristas do Brasil. Nascido em 29 de janeiro de 1895 em Rio Grande, Rio Grande do Sul, criou seu primeiro jornalzinho manuscrito, o
Capim Seco, aos 14 anos num colégio de padres jesuítas alemães em São Leopoldo. Mudou-se para Porto Alegre para estudar Medicina por pressão familiar. Certo dia numa prova oral, um dos professores perguntou-lhe "Conhece esse osso?", ele disse que ainda não e apertou-lhe dizendo: "Muito prazer em conhecê-lo".
No quarto ano abandonou a faculdade para morar no Rio de Janeiro onde escreveu em diversos jornais e fundou alguns, como
A Manha (na foto), um sucesso editorial, e o
Jornal do Povo. Foi nas páginas de
A Manha que surgiu o "título" de
Barão de Itararé, em 1930. Durante a revolução a suposta
Batalha de Itararé, cidade na divisa de São Paulo com o Paraná, foi maciçamente divulgada pela imprensa. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis a Washington Luís e as da Aliança Liberal, sob o comando de Vargas, que vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder. Mas nenhum tiro foi disparado. Antes que houvesse a batalha "mais sangrenta da América do Sul", acordos foram feitos. Uma junta governativa assumiu o poder e não aconteceu nenhum conflito. Mais tarde o Barão diria o seguinte:
"Fizeram acordos. O Bergaminni pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotsmo a tantos por mês em cargos de mando e desmando... e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem a batalha que não houve."
Grande alma que era lutou sempre a boa luta. Um de seus alvos prediletos foram os integralistas de Plínio Salgado. Dizia que quase entrou para as hostes dos “camisas verdes”, quando ouviu um deles gritando “Deus, Pátria e Família”, pois havia entendido: “Adeus pátria e família”.
Em 1947 entrou na política "séria", elegendo-se vereador pelo PCB. O Rio de Janeiro sofria então com constantes faltas de água e com o leite adulterado vendido pelas padarias. Seu lema de campanha foi “mais leite, mais água e menos água no leite”.
Luís Carlos Prestes disse: “o Barão com seu espírito não só fez a Câmara rir, como as lavadeiras e os trabalhadores. As favelas suspendiam as novelas para ouvir as sessões da Câmara que eram transmitidas pelo rádio”.
Era o tipo que perdia o amigo e até a liberdade, foi preso inúmeras vezes, mas não perdia a piada. Muitas de suas frases estão incorporadas no nosso inconsciente coletivo brasuca. Quer ler algumas?
. De onde menos se espera, daí é que não sai nada
. Dize-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.
. O banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
. A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
. O homem que se vende recebe sempre mais do que vale.
. Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está.
. Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta...