sábado, 14 de abril de 2007

Viver na flauta não é mole não




Falando em estranhos acontecimentos e músicos em Florianópolis, no próximo dia 21 de abril, farão 100 anos da morte do flautista Patápio Silva aqui em nossa cidade. Patápio foi considerado o inventor do "dugue-dugue", uma técnica em que o flautista ressalta a melodia apoiando as notas altas com inúmeras notas arpejadas e que aproximou a música erudita do chorinho brasileiro. Entre sua composições um dos destaques é "O Sabão", uma polca com estrutura inovadora para os padrões da época. "A melodia literalmente escorrega por entre os tons, passando maliciosamente pelos semitons (o que os técnicos chamariam de cromatismo), conferindo à melodia sua característica bem brasileira", diz o livreto "Patápio: Músico Erudito ou Popular?", publicada em 1983 pelo Ministério da Educação e Cultura.

Patápio estava em turnê pelo Brasil quando chegou em Florianópolis em 1907, vindo de Curitiba. Aqui adoeceu e agonizou 10 dias num hotel da Rua Conselheiro Mafra, até que passou desta para melhor. As circunstâncias misteriosas geraram várias versões, algumas semelhantes às da morte do bluesman Robert Johnson.

De acordo com o verbete sobre ele na Wikipédia, " tocava e compunha com a mesma desenvoltura, transitando naturalmente pelo erudito e popular. Foi considerado gênio ainda em vida, e a morte precoce reforçou o mito. Era com entusiasmo que Florianópolis aguardava a apresentação do virtuose naquele distante 1907. A uma semana do espetáculo, o jornal "O Dia" comemorava: "A nossa sociedade, tão pobre de distrações artísticas, vai ter dentro de poucos dias o prazer de ouvir um flautista de raro merecimento". O concerto estava marcado para 18 de abril. Seria no Clube 12 de Agosto. "O exímio flautista Patápio Silva foi ontem acometido de forte influenza, recolhendo-se ao leito com febre alta", noticiou "O Dia". Apenas depois da morte de Patápio é que desconfiou-se de infecção intestinal, possivelmente causada pela ingestão de alimento contaminado. As condições sanitárias da época eram precárias. Também se falou em envenenamento. De acordo com essa versão, Patápio teria cortejado a mulher de um importante político local, sendo por isso alvo de vingança. Correu ainda a história de que o flautista viajava acompanhado de uma bela mulher, que teria despertado a cobiça do tal figurão e inspirado a idéia do envenenamento. Mas nada disso foi comprovado. Centenas de pessoas foram ao velório no saguão do Hotel do Comércio, onde Patápio viveu os últimos momentos (o prédio da Conselheiro Mafra, em frente à Alfândega, abrigava ultimamente as Casas Coelho, loja que sofreu um incêndio ). Os pertences do músico foram confiscados pelo hotel como pagamento das diárias ­ inclusive a flauta, que teve destino ignorado. Em 1915, os restos mortais de Patápio foram exumados a pedido da família e transladados para o Rio de Janeiro.

Com essa, encerro - por enquanto - os fatos estranhos e macabros que aconteceram em Florianópolis com alguns músicos. E notando que ainda hoje a nossa "sociedade" carece de "distrações artísticas", no sentido de políticas culturais do governo. A elite governamental é ignorante e vive ainda lá no séc. XIX, nem chegou ao séc. XX. Ô racinha brega e colonizada. LHS estende o tapete pro Domenico de Masi fazer a política cultural de SC. Cheio de gente competente e talentosa no quintal de casa e o sinhô pelo jeito vai deixando a classe artística catarinense à margem de todo o processo novamente. Quanta criatividade ociosa doida pra trabalhar! É por isso que damos o grito de toda força às iniciativas como o Clube da Luta e tantas outras.

2 comentários:

Upiara B. disse...

Que belo resgate, Ulysses. É uma boa pauta, inclusive.

Ulysses Dutra disse...

É uma efeméride e tanto né Upiara? Ouvi falar no Patápio pela primeira vez numa matéria escrita, se não me engano, pelo Maurício Oliveira uns 10 anos atrás.
Um abraço e obrigado pela visita e pelo comentário