quinta-feira, 19 de julho de 2007

PQP



Vejam só essa. Um amigo meu, professor de cursinho, foi despedido por exibir o clássico de Stanley Kubrick, Laranja Mecânica, aos seus alunos. Isto aconteceu em Lages na Serra Catarinense. Uma aluna, revoltada com as cenas de ultra-violência e sexo, ficou de costas para a tela. Deu azar de ser filha de um outro professor do colégio. O caso chegou nos ouvido do dono e kaput.

A idéia era debater a violência à reboque dos últimos acontecimentos, como o caso dos cariocas que espancaram uma mulher que estava no ponto de ônibus.

É pra mim mais um sinal de quão careta este mundo está ficando. Coisa que só se torna mais forte desde 11 de setembro de 2001.

Como disse, bem a calhar, o Luiz Carlos Azenha :


"Enquanto vocês contam as medalhas de ouro do Brasil, não deixem de notar o que REALMENTE pode mudar a nossa vida de maneira dramática.

A Rússia se retirou dos acordos que limitavam o número de tropas no continente europeu, em resposta à decisão americana de instalar bases de lançadores de foguetes na Polônia e na República Tcheca?

E eu com isso?

É a Guerra Fria 2, no ar, que provocará uma corrida armamentista na Rússia e nos países fronteiriços aliados dos Estados Unidos.

No Paquistão, o governo do general Pervez Musharraf está cai-não-cai.

A guerra imperial do Bush no Iraque eliminou os moderados do cenário político.

Agora é extremista contra extremista.

E você com isso?

Já imaginaram se um regime islâmico fundamentalista assume o poder no Paquistão armado com bombas nucleares?"

9 comentários:

Anônimo disse...

isso diz muito sobre o que é considerado correto, cultura e educação por essas bandas. triste.

Ulysses Dutra disse...

Lamentável e sintomático mesmo né Lucian.

Um abraço

Cé S. disse...

Isto é muito preocupante. Revi Laranja Mecânica semana passada, e, como professor, uma das primeiras coisas que pensei foi na importância de se ver, discutir e entender diversos aspectos do filme.

É duro ver que talvez não haja lugar para mim em partes do atual sistema de "ensino".

Anônimo disse...

Realmente, estamos envoltos nas trevas de uma sociedade fascista: os jovens podem ser agredidos e mortos como tem acontecido em Minas gerais (relato no meu blog), mas não podem conhecer Laranja Mecânica...

marden disse...

É estranho, mas ao mesmo tempo muito explicável, isso de convivermos com adolescentes "caretas"... essa palavra que já não circula nos dialetos adolescentes, e que, por isso mesmo, poderia alguém concluir que se trata de uma reputação anacrônica, que não se fazem mais pessoas "caretas", e que muito menos os jovens haveriam de sê-lo. E no entanto... Tal caretice (que é mais do que caretice, convenhamos; é o cultivo de uma poderosa insensibilidade... dá medo só de pensar) só faz comprovar a relevância do filme. infelizmente, o faz em caráter de urgência. talvez isso motive mais exibições de kubrick em salas de aula por aí.

Anônimo disse...

Assaz Preocupante, com P maiúsculo.

Anônimo disse...

Laranja Mecânica é do caralho!

É violento, mas tem conteúdo, diferente da violência puramente estética de filmes como Esparta.

Como qualquer filme do Kubrick, ele te faz pensar no aspectos mais negros e cheios de tabús do ser humano, por isso eu acho que temas como esses não devem ser escondidos como é feito por certas escolas.

Ulysses Dutra disse...

É amigos, preocupante mesmo. Revela o atual estado da humanidade quando grande parte das pessoas tem uma preguiça monumental até de pensar.
Como disse o Marden, é antes de tudo uma insensibilidade assustadora.

Um abraço pra todos

Anônimo disse...

Segue a matéria então !!


Kubrick fora da sala

Chamou-me a atenção uma nota publicada pelo Marcos Espindola na contracapa
do último sábado.Com o fim de contextualizar o leitor.Peço permissão para
reproduzir aqui as palavras do amigo:

“um professor de um cursinho pré-vestibular da região serrana,na maior das
boas intenções,exibiu para sua turma o clássico Laranja Mecânica,de Stanley
Kubrick.Uma aluna presente sentiu-se ofendida e ficou indignada diante das
cenas de extrema violência e sexo.Tanto que passou o filme inteiro virada de
costas.O assunto chegou a direção da instituição de ensino,que teria
demitido o professor,cujo propósito em exibir Laranja Mecânica seria o de
debater a violência, na esteira dos últimos acontecimentos, como a gangue de
rapazes que espancou uma empregada doméstica no Rio de Janeiro.”

Confesso que a nota me deixou um pouco grilado.Sempre pensei que usar o
cinema para engatilhar o debate de problemas contemporâneos fosse uma
iniciativa pedagógica louvável. Tanto melhor se a atividade causou um certo
desconcerto na turma. Indica que o professor seguiu,por exemplo, a lógica
sustentada pelo padre Vieira no famoso sermão da sexagésima: o bom
pregador (professor) não é o que bajula seus ouvintes. É o que consegue fazê-los
pensar .

Esse colégiosinho aí, pelo jeito, não me parece muito sério, não. Tudo bem que a
escola sempre foi o lugar da hipocrisia e da caretice institucionalizada,o
lugar onde aprendemos a dedurar os outros e a tapar o sol com a peneira, mais
a daí a demitir um professor por ter exibido um filme,e ainda mais um filme
de kubrick... tem dó né?

De qualquer forma não adianta gastar muitas linhas lamentando que a
educação, como tudo hoje em dia, é mais uma questão de mercado que de
pedagogia. Ai o professor que, em vez de seguir a apostila (uma lucrativa
invenção das redes particulares de ensino), tenta fazer com que seus alunos
pensem e enxerguem o que acontece dentro e fora dos nossos mundinhos.

Pensar dói moçada e ver é quase sempre desagradável.Como o negócio agora é
contentar o cliente (sim,os estudantes não são mais chamados de alunos !)o
único destino de qualquer proletário da educação que se meter a filósofo é
o olho da rua .Portanto, meus queridos professores, é melhor sair dos
trilhos...

O que mais me espantou na notícia, porém, foi o comportamento da tal aluna, que
ficou de costas durante o filme inteiro. Lamento por ela,e não apenas porque
perdeu a oportunidade de assistir a algo um pouco menos conformista que Big
brother eXuxa.

Essa atitude de negação frente a realidade representa bem o
solipsismo (procure num dicionário, querida) da classe média brasileira, que não
é exatamente burra,como diz o Jabor, mas ingênua, tão ingênua que chega ao
ponto de se imaginar segura nos seus condomínios cercados de miséria por
todos os lados.

Para quem acha que nunca será atingido pela barbárie deste país porque se
garante com escola, transporte e saúde particulares, sinto informar que o
buraco é mais embaixo.Você pensa que está tudo bem até ser
assaltado, seqüestrado, pensa que protegeu filhos até que um deles aparece
drogado, pensa que vai fazer uma boa viagem até explodir em Congonhas.

A realidade está aí, minha gente, na nossa cara. Virar as costas ou fechar os
olhos não resolve nada. Kubrick na sala de aula já!

Matéria do "Maicon Tenfen"
"Diário Catarinense" 26/07/2007
O professor sou Eu.