Folha Online - O movimento de 1968 pelo mundo foi sufocado pelos governos da época. O que restou dele que dura até hoje em dia?
Carneiro- Olha, em primeiro lugar, eu concordo que houve uma derrota imediata dos movimentos, que foram violentamente reprimidos, com centenas de mortos. No caso da França foram poucos mortos, mas houve um ordenamento do governo. Nos Estados Unidos, houve uma repressão brutal, muitos mortos, e o Nixon conseguiu se eleger. No entanto, o movimento teve uma espécie de vitória em longo prazo. Houve conquistas imediatas, sobretudo na França, que serviram até mesmo para neutralizar as manifestações, por meio do aumento salarial e de várias concessões na administração universitária. Mas as grandes conquistas talvez sejam no âmbito ideológico, e até simbólico, que instaurou uma política cultural alternativa. As reivindicações feministas, dos direitos dos homossexuais, das minorias étnicas raciais, como os negros nos EUA, ou os indígenas e etc., todas essas questões se tornaram centrais, inclusive a ecológica. Ocorreu uma espécie de despertar de uma geração que passou a colocar novos assuntos na agenda política. Também houve o movimento psicodélico, questionando a proibição das drogas e a existência de outras legais, como o tabaco e o álcool. Acho que isso resultou em uma reivindicação de democracia cultural.
Trecho da entrevista com o professor Henrique Carneiro, da Faculdade de História da USP que está num caderno especial sobre o maio de 1968 publicado pela Folha. 40 anos da revolta jovem na França e pelo mundo.
No Brasil tudo começou já em março daquele ano, quando a Polícia matou o estudante Edson Luís no Rio de Janeiro. E em outros países os jovens também saíram às ruas antes da França.
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