quinta-feira, 26 de julho de 2007

"A Ilha inexistente"



No embalo do post anterior cito alguns trechos ( com destaques meus em negrito) de um artigo do professor da UFSC, Fábio Lopes da Silva, publicado no Caderno de Cultura do DC no dia 21 de julho. Leia na íntegra aqui.


"Assim como grande parte dos que habitam Florianópolis, só vim a morar na cidade quando já ingressara na vida adulta. À semelhança de muitos de meus concidadãos, fui escolarizado, portanto, em outras paragens - experiência que, para mim (e, suponho, para tantos outros), soa, retroativamente, muito estranha. Refiro-me, em particular, ao que acontecia nas aulas de geografia. É que nelas eu era apresentado a um mapa do Brasil do qual a Ilha de Santa Catarina não constava. A Ilha de Marajó estava lá, do mesmo modo que Fernando de Noronha. Mas o lugar que, ao fim de alguma errância, escolhi para viver simplesmente não era representado, como se não existisse".


"Ilhas, mesmo as desenhadas em mapas escolares, já têm qualquer coisa de irreal. Cercadas de água por todos os lados, elas tendem, por isso mesmo, a despertar em seus habitantes ou visitantes um sentimento de desconexão, de perdição. "Pedacinho de terra perdido no mar", diz, aliás, um verso famoso do rancho que serve de hino à cidade: caracterização muito precisa do que é esta ilha; descrição ainda mais pertinente de Florianópolis depois que a Ponte Hercílio Luz foi desativada e passou a assombrar as pontes novas, como que a lembrar-nos da precariedade de nossos vínculos com o Continente, ainda que a estrutura desses vínculos tenha, supostamente, a solidez do aço (o apagão que, recentemente, se abateu por dias sobre a cidade é outro fantasma dessa precariedade)".


"Já observei, em outros ensaios, que, em Florianópolis, se dissemina uma espécie insólita de cidadania, em cujos termos somos como que turistas permanentes (uma boa evidência disso - nem de longe a única - é dada, por exemplo, pelo número de indivíduos que residem há anos na cidade sem que seus títulos eleitorais sejam transferidos para cá). Nos mesmos ensaios, observei, ademais, que, coalhada desses turistas permanentes, Florianópolis - ou melhor, Floripa - não chega a ser propriamente uma cidade. É, antes, uma paisagem pela qual circulamos como em um interminável city tour. Melhor ainda: Floripa é, a rigor, menos que uma paisagem, menos que um conjunto de praias e montanhas em que prédios e casas, como a Ponte Hercílio Luz, são quase uma ilusão de ótica. Floripa, no limite, é um cenário - algo como uma Disneylândia subtropical".



Foto de Daniel Conzi/DC

Nenhum comentário: