quinta-feira, 19 de julho de 2007

Música Independente


Segue aí uma belíssima dica de Pedro Alexandre Sanches na caixa de comentários de seu blog, também conhecida como "a janela vermelha", um dos melhores cantos desse mar internético. É um texto do antropólogo Hermano Vianna, publicado no site Overmundo.

"Eu estava em Manaus, lá por volta de 1997, quando ouvi Chimbinha pela primeira vez. As rádios locais só tocavam brega paraense. Logo a sonoridade característica da guitarra, em todas as músicas, chamou a minha atenção. Era um dedilhado barroco, cheio de floreios, mas muito claro e seguro. Anotei o nome de alguns dos artistas, para procurar os CDs. Naquele tempo, ainda havia muitas lojas de discos, que vendiam os produtos oficiais, com encarte e ficha técnica. Percebi, em todos eles, o crédito para o mesmo guitarrista: Chimbinha. Como estava fazendo a pesquisa para o projeto Música do Brasil, e minha próxima escala seria Belém, resolvi procurar o cara. Foi fácil: todo mundo nos estúdios paraenses sabia onde encontrá-lo.

Chimbinha me deu de presente seu CD solo, chamado Guitarras que Cantam, hoje uma raridade que deveria ser relançada para os fãs conhecerem suas origens. Era um disco de guitarrada, claramente herdeiro das invenções dos mestres Vieira e Aldo Sena, que foram muito populares em toda a Amazônia no início dos anos 80, antes da febre da lambada. Sou fã de guitarrada - então foi fácil ficar fã do Chimbinha. As músicas Dançando Calypso e Na Levada do Brega, que abrem o Guitarras que Cantam, estão entre as minhas favoritas de todos os tempos. Elas aparecem tocadas ao vivo num dos episódios do Música do Brasil que passou na MTV e na TVE.

Fiquei fascinado com a movimentação musical em Belém, ainda totalmente desconhecida no sul do país. Escrevi o seguinte texto para o livro de fotografias do Música do Brasil:

"O brega, se ninguém ainda percebeu, é rock. Digo mais: é o mais amado e duradouro estilo do rock brasileiro. Tudo começou com a jovem guarda, e sua adaptação do rock internacional para o gosto popular nacional. Quando Roberto Carlos colocou em segundo plano as guitarras elétricas e se transformou em cantor romântico acompanhado por orquestras, a fórmula inventada pela jovem guarda se descentralizou, primeiro passando pelo Goiás de Amado Batista, depois pelo Pernambuco de Reginaldo Rossi, até chegar ao Pará do ex-governador Carlos Santos, também cantor brega, autor de dezenas de discos.

Hoje Belém é a capital do novo brega. Centenas de CDs são lançados anualmente, a princípio para um consumo regional, mas que começa a atingir também o público nordestino. Os músicos locais já nem chamam o que fazem de brega, dizem que é "calipso", música mais "sofisticada".

O marco do nascimento do calipso - não tem nada a ver com a música de Trinidad e Tobago - foi o sucesso Ator Principal, lançado por Roberto Villar em 1996. De lá pra cá, os discos do novo brega de Belém são produzidos com maior cuidado, as guitarras são dobradas, e o ritmo se acelerou. Algumas pessoas se destacam no meio da profusão amazônica de novas estrelas.

Chimbinha, com 23 anos, tocou guitarra em mais de 200 CDs, só em 1997. É uma das maiores revelações entre novos músicos brasileiros de qualquer estilo, sendo herdeiro direto das invenções de Renato dos Blue Caps - que criou o chacumdum da guitarra brega ao ser obrigado a tocar num disco de bolero, sem saber tocar bolero - e das guitarradas de Vieira"...


Leia na íntegra aqui. Recomendo e muito.

Um comentário:

Dauro Veras disse...

Boa dica!